quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Brinquedos


Aos oito anos ela chorava assim, como agora.
A pilha de brinquedos amontoados num canto do quarto.
Chovia. No quarto. Eles todos os dias, na mesma posição, emboloravam aos poucos.
Não havia pais, ou não havia tempo. Ela não podia alcança-los, nem aos pais, nem aos brinquedos.
Ficava sozinha até a noite.
Descobria todos os fantasmas que lhe assombrariam pelo resto dos anos, tomando forma sob a luz amarelada que enchia a casa de sombras.
Ela chorava, embora não soubesse ainda, menos o estrago de seus brinquedos.
Chorava o abandono e chorava mais: a infância se esvaindo enquanto aprendia, como um bicho, a se alimentar e cuidar de si.
Ela chorava os anos que perdia, aglomerando-se em bolor, nas pernas de seus bonecos.

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