São três: Cirene, Dafne, Lakshmi. Uma é todas, e todas são a mesma. Elas tecem, fiam, cozinham e, sobretudo, esperam. Constroem muros, fortes, paredes, mas se dedicam mais às janelas, portas, pontes. Desconhecem o ofício de erigir em linha reta ou com materiais sólidos. Estes são para os homens, todos e um.
Vagam pelo mundo desde o primeiro suspiro de um coração partido, e têm a sina de continuar acreditando. Perseguem o objetivo dos ingênuos, tão simples quanto irrealizável. Aqueles que assistem à sua jornada diriam que dançam, ou fazem qualquer coisa harmoniosa com seus tentáculos.
Não se enxergam senão através de retinas alheias, por isso passam o tempo sagrado diante dos espelhos. Confundem mais do que esclarecem e quando choram o vento estaca e as águas fazem pequenos círculos.
Moram em todos os corpos, porém devem abandoná-los, migrando de tempos em tempos, sob pena de sua fome devorar o mundo. Já aconteceu mais de uma vez, e elas tiveram de parí-lo. Como se sabe, a dor de externar é maior que a de engolir. De tão intensa, elas se metamorfoseiam em esgares até o irreconhecível.
São quem recolhe os corpos nos campo de batalha, escondem os avessos e velam, anônimas, o sono dos aflitos. Todos os serviços imperceptíveis sem os quais se instalaria o caos. São irmãs do caos e o disfarçam ora em vasos de flores, ora em pingentes sobre o peito.
Ninguém as conhece, nem elas umas as outras, embora todos se encontrem. Quando se tocarem, a colisão das delicadezas fará brotar o inominável.
2 comentários:
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amei.
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