sábado, 23 de julho de 2011

Acidinha



Era um teatro, meia hora antes da peça começar. Eu estava sozinha num banco, no café, todos os outros ocupados, e ele pediu para sentar do meu lado. Tudo bem. Eu não conhecia ninguém na plateia do Gerald Thomas. Nem ele. Carioca, professor, História. Paulista do interior, professora, Teatro.



Perguntou como fazia para chegar na Arco Verde depois da peça, expliquei conforme pude. Eu precisava mesmo tomar o ônibus na Vergueiro e talz, podia esperar por ele. Ele decidiu que ia tomar o metrô, mas se eu quisesse, desviaria um pouco do caminho, me acompanharia até o ponto, e me esperaria embarcar.



Não sei se foram os cabelos compridos, os óculos, a cara de bonachão, ou qualquer coisa insuportavelmente masculina e protetora nele, mas eu disse "tranquilo", e fui entrando no teatro. Fiquei puta com o carioca metido, mais perdido que eu, generosamente me oferecendo a garupa (nunca a dianteira) do seu cavalo branco.



Uma hora depois, finda a exibição egoico-thomasiana, saí do prédio sem correr e sem demorar. Entrei com o cu na mão no zigue-zague de ruas que me levariam ao ponto de ônibus e esperei. Pensei em tomar um táxi, em ir até Paulista e lá procurar outro ônibus, em acender mais um cigarro, e todas essas coisas que deveriam enganar o fato de ser uma mulherzinha bem pequena, sozinha, num lugar escuro.


Já em casa, demaquilada, aquecida, e com a força de mil amazonas urbanóides, me ocorreu algo tão imbecil e sincero quanto as convicções adolescentes: não há homem (mulher, criança, animal ou extraterrestre) capaz de nos poupar do que nos atravessa.

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