quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

NO VERÃO ANTERIOR

Às 3 da manhã havia uma barata no teto. Eu soube porque acendi a luz, porque não conseguia dormir.

Peguei o spray de veneno, apoiei um pé nos pés da cama e outro na base da janela, e espirrei abundantemente para cima. E do novo. Respingou em mim. Eu fui até a pia do banheiro e me lavei, usando a toalha de rosto para me secar. E quando olhei, ela permanecia imóvel.

Tirei o lençol da cama e com ele cobri os travesseiros. Imaginei que, por ser muito alto o teto e eu muito baixa, ela pudesse não ter sido atingida. Fui até a cozinha, examinei as cadeiras em busca da mais alta e escolhi uma. De volta ao quarto, subi e apertei bem forte o botão do inseticida. Mais dois ou três jatos generosos.

Ela cruzou o teto caminhando lentamente até o armário. Caiu em cima dele e eu não pude mais vê-la. Só ouvi-la. Apertando os olhos, fui me aproximando da parede oposta, na ponta dos pés e esticando o pescoço. Parei antes de encostar na superfície, com medo de haver outras baratas às minhas costas, à espreita.

Subi novamente na cadeira e espalhei um novo e vagaroso jato na horizontal, por toda a extensão do armário. Uma mosca caiu morta. Provavelmente, inalei com ela boa parte daquele veneno.

Saí do quarto e lavei as mãos com bastante água e sabonete. Sequei na mesma toalha de rosto, enquanto a ouvia arranhar, debater-se. Pus a mão na frente do nariz e da boca para protegê-los e esperei.

Finalmente pude vê-la, e ela tentava sair pelas frestas no forro. Se eu a deixasse ir, ela certamente procriaria e haveria baratas ainda mais fortes!

Ela desceu pela porta do armário, empoada e presa em teias de aranha. Passou por mim e foi em direção ao banheiro. Empunhei o frasco de veneno e disparei em sua direção. Me dei conta do ridículo dos meus artefatos humanos ante a uma criatura jurássica. Não poderia esmagá-la, não depois de tanto veneno e tanta luta. Senti uma espécie de admiração por ela. Minutos antes, quando acendi a luz, eu pensava em como eu havia resistido ao mar no verão anterior, quando ele quis me afogar. Me lembrei de “Mãe-Coragem”. Estaria prenhe de ovinhos, por isso resistia assim?

Eu havia lavado as mãos depois do último jato e, divagando em observá-la, esqueci de secar. As gotas d´água caíam-me das pontas dos dedos no chão. Lágrimas.

Achei que era uma crueldade sem tamanho assistí-la agonizar, e dei-lhe mais um jato para que acabasse logo.

Dessa vez, de tão perto, o golpe do veneno tornou-a esbranquiçada. Já de barriga para cima, entre o vaso e o bidê, ela lutava para virar-se. E não morria, como que num último fio de dignidade. Obviamente, Kafka me veio à mente.

Movia as patas superiores e as inferiores sem conseguir fazer com que seu abdômen girasse. Tratava-se de uma barata enorme, maior do que o comum. Por isso, mesmo com o esforço, lhe era impossível coordenar os movimentos e virar-se para tornar a fugir. Restava-lhe agitar-se sem sucesso. Então, conclui satisfeita: eu não morro porque sou pequena!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Chamada para o VII Festival de Apartamento (São José do Rio Preto) .


Chamada para o
VII Festival de Apartamento
(São José do Rio Preto)
Performance Art

(favor repassar essa chamada por e-mail, blogs e/ou redes sociais)
http://festivaldeapartamento.blogspot.com/
http://twitter.com/fest_apartament

Os Apartment Festivals foram criados pelos neoistas nos anos 80 como uma forma de realizar eventos internacionais de Performance Art nas próprias moradias dos artistas, deixando de recorrer ao apoio de órgãos oficiais. Basicamente, para realizar um Festival basta um local, uma intenção e artistas interessados em apresentar e/ou assistir a performances.

Num processo de apropriação dessa prática, desde 2007 uma série de eventos performáticos tem sido organizada por uma equipe interessada em adaptar os Festivais de Apartamento de acordo com as necessidades de uma nova geração de artistas, ansiosos por espaços livres para apresentação de performances e intercâmbio de experiências: um misto de mostra e festa que se manifesta cada vez que surge uma residência para abriga-la.

A sétima edição do evento acontecerá em São José do Rio Preto, em espaço oferecido pelo ator e performer Gerrah Tenfuss, no dia 20 de Fevereiro de 2010.

Os performers interessados em participar do festival devem preencher a ficha de inscrição (se estiver indisponível tente novamente em alguns minutos ou peça a ficha por e-mail) e enviá-la, junto a uma imagem de divulgação, para a organização do evento através do e-mail:

festivaldeapartamento@gmail.com

Maiores detalhes e histórico dos eventos já realizados:
http://festivaldeapartamento.blogspot.com/

Anfitrião:
Gerrah Tenfuss

Organização:
Thaíse Nardim
Ludmila Castanheira
Rodrigo Emanoel Fernandes
Alexandre Sanches