quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Parada



Vi hoje uma notícia tão estapafúrdia que talvez seja mentira. Um engarrafamento na China, que durava dez dias, desapareceu misteriosamente quando a imprensa começou a mostrá-lo. Dizia que alguns ambulantes abasteciam os engarrafados com comida e bebida a preços altíssimos, e que ele era ainda mais intenso na região Muralhas, o que obrigou os guias turísticos a criarem novos roteiros de visitação. Antes da cobertura jornalística, as autoridades estimavam que durasse até setembro.

Pensei em fazer uma ação. Uma hora parada usando no corpo algum tipo de tinta que desaparecesse com o tempo. Uma metáfora para o que estou vivendo agora. Com projeto de doutorado e orientador engatilhados, o programa em que eu me inscreveria suspendeu a seleção por tempo indeterminado. E nos dias subseqüentes, soube que estou impedida de prestar um concurso para professor em Artes Cênicas porque, embora seja essa a minha graduação e o mestrado seja em performance art, eu o realizo em um departamento cuja área não está prevista no edital.

Se antes a angústia era escolher entre um e outro, agora a sensação é semelhante à de estar presa no trânsito.Tempo perdido, e nada que eu possa fazer andar apenas por minha vontade. Nada, afora as relações estabelecidas com os “ambulantes”: colegas e idéias que passam por mim enquanto espero a possibilidade de me mover.


E a montanha insiste em ficar lá
Parada
A montanha insiste em ficar lá
Para lá
Parada
Parada

(Arnaldo Antunes)

Um comentário:

Anônimo disse...

Engarrafamento de 10 dias?
Não sei o que dizer! Parece surreal!