sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Carta aos os meus filhos por vir


Percebi hoje que minhas mãos estão sempre ocupadas, e que, quando parada, me vejo trocando o peso de uma perna para a outra, semelhante um joão-bobo em câmera lenta, como vi muitas vezes minhas irmãs, primas e tias se transformarem sobre o pretexto de ninarem suas crianças.

Poderia ser que nas mãos eu trouxesse chupetas ou super-heróis ou qualquer bagunça salutar que deixasse seus resíduos para a gente catar.

Há tempos sonho com menininhos e menininhas de olhos espertos que têm algum traço da personalidade ressaltado de acordo com a fase pela qual eu esteja passando.

Os vejo sempre e àqueles que não são meus mas que me dão um desejo de matriarca do mundo, com casa, afeto e condições tantas quantas fossem as boquinhas e coraçõezinhos famintos – eu já chorei pelas meninas da China.

Escrevo a todas as possibilidades de vocês porque hoje, por sua aparição em mais um sonho, passei o dia todo com um receio monstruoso de destratar ou fazer mal de qualquer modo ou a quem quer que fosse (e motivos tive muitos que teleatendente nessa vida parece dar a devida permissão para proferimento dos mais cabeludos impropérios), acometida de uma crise piegas de saber que todos são filhos de alguém e, mesmo não tendo nascido sob as melhores circunstâncias, já foram objeto de sonhos e projeções e despertaram o que de melhor poderia haver em algum homem e/ou mulher.

Pode ser também que eu tenha ficado pensando que o Zé e a Lu vão ser pais, e o Berro - o Berro! – é pai da Isis... e até a Soraia gerou o Valentino, e ele é lindo.

Foi por causa de um narizinho rosado, dentro de uma cara rosada e cheia de rugas dormindo tranqüilo no meu sonho que eu dei uma abraço no velhinho que cumpre função de caseiro no lugar onde trabalho. Também porque então se confundem a minha vontade de ser mãe com as saudades que eu tenho de ser filha, e talvez por isso eu tenha dado um telefonema carente e meio desesperado, tentando romper a distância mais que física entre eu e minha mãe.

Eu os embalo sempre, mesmo sendo esboços, e acho optei por toda essa loucura diária de uma vida fora do aquário na tentativa de aprender qualquer coisa de útil a uma outra vida, guardando o receio e um certo orgulho implícito (não sem um desejo louco de companhia) de com isso condenar mais alguém à existir “pelas bordas”.


4 comentários:

petrucia finkler disse...

eu que estou no momento vivendo o intenso desejo de ser mãe, achei este teu post de uma sensibilidade ímpar. Teu ataque piegas de não querer maltratar ninguém por todos serem filhos de alguém, e por isso mesmo terem sido sonhos de alguém, me deixou muito tocada. Também adorei a idéia de que o desejo de ser mãe as vezes mistura com a saudade de ser filha. eu não tinha pensando nisso. Obrigada.

petrucia finkler disse...

eu que estou no momento vivendo o intenso desejo de ser mãe, achei este teu post de uma sensibilidade ímpar. Teu ataque piegas de não querer maltratar ninguém por todos serem filhos de alguém, e por isso mesmo terem sido sonhos de alguém, me deixou muito tocada. Também adorei a idéia de que o desejo de ser mãe as vezes mistura com a saudade de ser filha. eu não tinha pensando nisso. Obrigada.

?estranho! disse...

Oi Ludi, que texto bonito! minha vontade de ter um filho é totalmente influenciada também pela saudade de um pai que não tive e ler seu texto deixou isso mais claro. valeu. bjs!

Anônimo disse...

Me coloco de pé para aplaudir tanta sensibilidade e talento... Acho que perfeito seria pouco para descrever esse seu textinho Lud, porque perfeito é nada mais que uma qualidade que damos a algo q está bom! (ou mais que bom). Mas seu texto está ... maravilhoso! Está ótimo. Umas várias linhas de doçura, de sentimentos sensíveis de um ser que não teve vergonha de compartilhar e ainda que quis e fez com muito talento. Uma leitura apaixonante. Uma escritora muito boa. Uma pessoa sem palavras .. Que vc consiga tudo o que vc mais deseja, vc é especial. Fique com Deus