sábado, 17 de maio de 2008

She was dying


Eu estava ajoelhada no chão da cozinha de minha casa sob uma bacia e a cada lado minha mãe e minha irmã mais velha. Eu estava de branco e tinha uma criança no colo, e misturava na bacia, com uma das mãos, leite em pó e água muito empelotados.
Enquanto isso, dizia à minha mãe que havia encontrado uma planilha antiga de anotações sobre minha saúde. Ela perguntava: "Algo sobre sua pressão arterial?" e eu: "Sim, eternamente baixa, 9:6".
Neste exato momento, todas nós olhamos em direção ao banheiro de minha casa, que agora é uma porta e dá para a rua. Lá passa correndo um homem com uniforme do exército em tons de cinza. Minha mãe chama por ele "O que houve dessa vez"?
O homem vem até nós. Está aflito. É meu pai, bem mais jovem. Ele diz não saber o que está havendo com as poucas mulheres que restam no mundo. Conta que a moça grávida de uma menina - eu me lembro de sua imagem festejada nos noticiários - está com um nódulo grande no seio. Ele olha para mim e eu compreendo que a moça grávida sou eu.


Minha mãe está desesperada e esta cena não tem som. Ela quer impedí-lo de alguma coisa, mas ele continua me olhando e, na esperança que eu não ouça ou não entenda, diz: "She was dying".

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