Eu não gosto de dormir sozinha. É como se houvesse qualquer
coisa gosmenta e verde embaixo da cama.
Assim, bem característica dos trashes
anos 80. Ou como se a cama inteira só
para mim tornasse evidente o quão pequena eu sou . Logo, facilmente engolível
por monstros escondidos em cantos insuspeitos.
Depois vem aquela sensação de “sozinha na cidade” que não
passa nem com o som da estupidez que alguns carros bradam na madrugada. Também estes motoristas vão dormir sozinhos.
Talvez eles nem saibam, mas essa é sua forma de protesto. Cada um se manifesta
como pode.
Um dia alguém acreditou que cantiga de ninar ajudaria a
trazer sono se falasse sobre a cuca ou o bicho papão. Dormir sozinha desperta o meu boi da cara
preta em sua versão adulta: adornado de ansiedades e desconfortos mil.
Por isso eu não durmo. Não antes de o sol sair, ou de os
olhos arderem, ou de não haver mais ninguém on-line.
Não antes de pensar na vida até solucionar na mente todos os nós dessa
existência insone. Imagino diálogos
longuíssimos. Devia escrevê-los, mas não: estar insone durante as férias não
deve ser produtivo. Pode mesmo causar um desequilíbrio no cosmos.
Também penso um punhado de mão grande, repleto de besteiras
frescas enquanto não durmo. Quanto mais sono, mais desconexas as ideias. Um
amigo notívago se diverte com esse meu estado semi alucinado. Quando nos
visitamos, assistimos a filmes “z” enquanto não dormimos. Combinam com a
atmosfera.
Tenho uma almofada em formato de fusca que ganhei em meu
vigésimo sétimo aniversário. Eu já a
vesti com uma camiseta de namorado, embebida no perfume dele, na esperança de
dormir em paz. Vai ver é só por isso que a gente admite crescer: para poder
trocar o urso de pelúcia por pele. Pele amada. Com cheiro, calor e ainda por
cima uns cravinhos prá cutucar.
Já pensou se resolvem comercializar? Pele amada com cheiro e
cravos. Faria um sucesso tremendo e custaria os olhos da cara – seriam eles
moeda de troca? –em várias versões: em diferentes temperaturas, morena, branca,
negra, amarela, vermelha, pintadinha ou xadrez. Cobertores de pele amada.
Cobertores de orelha. Comercializáveis.
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