sábado, 19 de janeiro de 2013

Duerme negrito



Eu não gosto de dormir sozinha. É como se houvesse qualquer coisa  gosmenta e verde embaixo da cama. Assim, bem característica dos  trashes anos 80. Ou como se  a cama inteira só para mim tornasse evidente o quão pequena eu sou . Logo, facilmente engolível por monstros escondidos em cantos insuspeitos.
Depois vem aquela sensação de “sozinha na cidade” que não passa nem com o som da estupidez que alguns carros bradam na madrugada. Também estes motoristas vão dormir sozinhos. Talvez eles nem saibam, mas essa é sua forma de protesto. Cada um se manifesta como pode.
Um dia alguém acreditou que cantiga de ninar ajudaria a trazer sono se falasse sobre a cuca ou o bicho papão.  Dormir sozinha desperta o meu boi da cara preta em sua versão adulta: adornado de ansiedades e desconfortos mil.
Por isso eu não durmo. Não antes de o sol sair, ou de os olhos arderem, ou de não haver mais ninguém on-line. Não antes de pensar na vida até solucionar na mente todos os nós dessa existência insone. Imagino diálogos longuíssimos. Devia escrevê-los, mas não: estar insone durante as férias não deve ser produtivo. Pode mesmo causar um desequilíbrio no cosmos.
Também penso um punhado de mão grande, repleto de besteiras frescas enquanto não durmo. Quanto mais sono, mais desconexas as ideias. Um amigo notívago se diverte com esse meu estado semi alucinado. Quando nos visitamos, assistimos a filmes “z” enquanto não dormimos. Combinam com a atmosfera.
Tenho uma almofada em formato de fusca que ganhei em meu vigésimo sétimo aniversário.  Eu já a vesti com uma camiseta de namorado, embebida no perfume dele, na esperança de dormir em paz. Vai ver é só por isso que a gente admite crescer: para poder trocar o urso de pelúcia por pele. Pele amada. Com cheiro, calor e ainda por cima uns cravinhos prá cutucar.
Já pensou se resolvem comercializar? Pele amada com cheiro e cravos. Faria um sucesso tremendo e custaria os olhos da cara – seriam eles moeda de troca? –em várias versões: em diferentes temperaturas, morena, branca, negra, amarela, vermelha, pintadinha ou xadrez. Cobertores de pele amada. Cobertores de orelha. Comercializáveis.